Por que só o Botafogo vai pagar imposto no Brasil pela premiação do Mundial de Clubes?

Imagina a cena: quatro clubes brasileiros disputando o tão sonhado Mundial de Clubes da FIFA em 2025. Todos empolgados, camisa suada, gritos da torcida ecoando no estádio. No fim, os quatro recebem a mesma premiação milionária da FIFA. Mas, na hora de levar o dinheiro pra casa… surpresa: só o Botafogo vai ter que pagar imposto aqui no Brasil. Os outros três saem livres. Estranho, né?
Calma que a gente explica.
Começando pelo básico: o que rolou no Mundial?
O Mundial de Clubes de 2025 foi diferente. Ele aconteceu nos Estados Unidos e contou com 32 times, estilo Copa do Mundo mesmo. O Brasil teve quatro representantes: Flamengo, Palmeiras, Fluminense e, claro, o Botafogo.
Cada clube recebeu em torno de US$ 26,7 milhões, o que dá mais ou menos R$ 145 milhões. Nada mal, né? Isso aí dá pra reforçar o elenco, quitar umas dívidas, talvez até contratar aquele camisa 10 que a torcida tanto pede.
Só que, na hora de receber a grana, veio a diferença: enquanto três clubes estavam tranquilos com relação aos impostos no Brasil, o Botafogo teve que preparar o bolso.
E por que só o Botafogo?
A resposta está em três letras que viraram moda nos últimos tempos: SAF.
O Botafogo é uma Sociedade Anônima do Futebol. Isso significa que ele não é mais um clube tradicional com estatuto, presidente eleito e tudo mais. Ele virou uma empresa. Com CNPJ, balanço contábil, diretoria, lucro, prejuízo… o pacote completo.
Enquanto isso, Flamengo, Palmeiras e Fluminense continuam sendo associações sem fins lucrativos. Esse modelo ainda é o mais comum no futebol brasileiro.
E o que isso muda? Muita coisa. Mas, pra esse caso aqui, a principal diferença é que empresas pagam impostos. Associações, não.
Simples assim.
Tá, mas que imposto é esse?
É um pacotão. Quando o dinheiro entra no Brasil vindo do exterior, empresas como a SAF do Botafogo precisam pagar cerca de 5% de impostos sobre o valor bruto. Isso inclui:
- IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica)
- CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido)
- PIS e Cofins
- E a contribuição previdenciária patronal
Além disso, também tem o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que é cobrado sobre a entrada do dinheiro no país. Esse IOF gira em torno de 1,1%.
Ou seja: o Botafogo, que recebeu R$ 145 milhões, vai pagar quase R$ 8 milhões só em impostos no Brasil.
E os outros clubes? Pagam só o IOF, e olhe lá.
E nos Estados Unidos, todo mundo pagou?
Sim, nesse ponto, o jogo foi igual pra todo mundo. Como o Mundial foi nos EUA, a própria FIFA já desconta uma parte da premiação direto na fonte, lá mesmo. A alíquota gira em torno de 30%.
A única forma de escapar (ou pelo menos reduzir) essa mordida seria abrir uma empresa nos EUA, o que permitiria negociar um regime tributário diferente. Mas nenhum clube brasileiro quis seguir por esse caminho.
Então, sim: todo mundo levou uma beliscada do Tio Sam. Mas só o Botafogo tomou também a mordida do Leão brasileiro.
Isso é ruim para o Botafogo?
Depende de como você enxerga a coisa.
Sim, pagar imposto nunca é gostoso. Ainda mais quando você vê os colegas do lado escapando disso. Mas o modelo SAF também traz vantagens — e é aí que entra o ponto de vista do investidor.
SAF: a faca de dois gumes
Ser SAF é como sair da casa dos pais e ir morar sozinho. Você ganha liberdade, pode fazer as coisas do seu jeito, atrai mais atenção de quem quer investir em você. Mas também vem o aluguel, o mercado, a conta de luz e a responsabilidade.
O Botafogo virou SAF em 2022, e hoje é controlado majoritariamente pelo empresário americano John Textor. Isso abriu portas pra investimentos, estruturação e uma gestão mais profissional.
Pra investidores, a SAF tem vantagens claras:
- Transparência nas contas
- Facilidade pra captar grana
- Modelo de gestão empresarial
- Participação em lucros futuros
Mas, claro, nada é de graça.
Empresas pagam impostos. E eles respondem à lei como qualquer outra empresa. Não tem jeitinho. A grana entra? A Receita quer a parte dela.
E se eu quiser investir em uma SAF?
Boa pergunta.
Hoje, algumas SAFs brasileiras já estão abrindo capital ou buscando formas de captar investimento direto do público. O Cruzeiro, por exemplo, já teve conversas sobre isso. E não seria surpresa se Botafogo, Vasco ou outros seguissem esse caminho.
Investir em SAF pode ser uma boa ideia. Você participa do crescimento do clube, pode ganhar com valorização da marca, premiações, venda de jogadores…
Mas também tem riscos. Futebol é volátil. Uma temporada ruim pode derrubar receitas, desvalorizar ativos e até gerar prejuízo.
Por isso, antes de investir, vale olhar:
- Quem está por trás da SAF? (É alguém sério ou um aventureiro?)
- O clube tem estrutura, base, torcida?
- Tem transparência nos números?
- Quais são os planos de longo prazo?
Não é muito diferente de investir numa startup ou numa empresa da bolsa. Você aposta no potencial. Só que, aqui, o fator emocional pesa muito mais.
O que o caso Botafogo nos ensina?
Pra mim, a grande lição aqui é: modelo jurídico importa. E muito.
Muita gente acha que empresa é tudo igual. Mas o tipo de empresa, o regime fiscal, a estrutura legal… tudo isso muda o jogo.
No futebol, os clubes-associação ainda conseguem algumas regalias. Não pagam impostos como uma empresa. Têm benefícios por serem “sem fins lucrativos”. Mas essa diferença vai durar até quando?
Em algum momento, o governo pode apertar o cerco. Ou a FIFA pode exigir mais profissionalismo. Ou os próprios clubes vão ver que o modelo antigo já não aguenta mais.
O Botafogo, nesse sentido, está um passo à frente. Está sentindo a dor agora, mas pode colher os frutos depois.
E você? Já pensou nisso no seu negócio?
Pode parecer que esse papo é só sobre futebol, mas não é. Essa história do Botafogo mostra como a forma como você estrutura seu negócio influencia diretamente nos seus custos, sua liberdade e seu potencial de crescimento.
Se você é MEI, por exemplo, tem menos imposto, mas também menos liberdade pra crescer. Se vira LTDA, ganha musculatura, mas a carga tributária vem junto. Cada escolha tem seu preço.
No fim, o importante é saber o que você quer. Crescer rápido? Atrair sócios? Manter controle total? Pagar menos imposto?
O mesmo vale pros clubes. O Botafogo decidiu virar empresa. Agora, joga outro jogo. Com novas regras. E novos desafios.
Pagar imposto é ruim. Mas às vezes é o preço do crescimento.
Ninguém gosta de pagar imposto. Não sou eu. Nem você. Muito menos o Botafogo.
Mas crescer, se profissionalizar e se abrir para o mercado às vezes exige isso.
O segredo é saber onde você quer chegar — e se o caminho que está trilhando te leva até lá.
Enquanto isso, os outros clubes continuam no modelo antigo. Mais leve agora, mas será que sustentável no longo prazo?
Fica a pergunta no ar.
Se você gostou desse papo e quer mais conteúdos que misturam futebol, investimento, empreendedorismo e realidade nua e crua, me acompanha por aqui. A gente ainda vai conversar muito sobre esse novo mundo onde paixão e dinheiro andam lado a lado.
E aí? Você investiria em uma SAF?
Me conta nos comentários.
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