Quando a Venezuela resolveu taxar o Brasil: entenda essa bagunça toda
E agora acabou o acordo?
Você já passou por uma amizade que parecia firme e, de repente, um dos lados muda de atitude sem avisar? Pois é. Foi exatamente assim que muitos exportadores brasileiros se sentiram com a Venezuela nas últimas semanas. Eles receberam uma taxa inesperada de até 77% sobre produtos que deveriam ser isentos. Surreal, né?
E o pior: tudo isso mesmo com o Acordo de Complementação Econômica (ACE 69) em vigor desde 2014, que garante isenção de tarifas para produtos brasileiros exportados à Venezuela — desde que apresentados certificados de origem válidos .
Como começou essa confusão?
Exportadores pegam a Venezuela de surpresa
Num belo dia, empresários de Roraima começaram a notar algo estranho nos embarques. Os documentos do certificado de origem foram rejeitados pelos fiscais venezuelanos. Resultado: nada de isenção.
E aí, pasmem: sobem tarifas que variam entre 15% e 77%, dependendo do produto— mesmo quando o acordo prevê isenção total .
Não teve aviso prévio. Zoeira total.
Roraima é o estado mais atingido, porque representa mais de 70% das exportações brasileiras à Venezuela, com produtos como farinha, margarina, cacau e cana-de-açúcar.
O que diz o Brasil?
Denúncia, diplomacia e indignação
O governo brasileiro não ficou mudo. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e o Itamaraty acionaram a embaixada em Caracas. Querem esclarecimento urgente. Enquanto isso, o governo de Roraima elevou a bola: cobra ação federal. Afinal, isso é golpe comercial de surpresa .
A Federação das Indústrias de Roraima (FIER) iniciou investigação interna. Busca as causas: se foi falha técnica ou decisão política. Mas todos concordam em algo: quem sofre é quem trabalha sério e produzia conforme a lei.
O presidente da Câmara de Comércio Brasil‑Venezuela falou alto:
“Se for erro, esperamos correção. Se for decisão política, diálogo é imprescindível — porque os dois lados perdem” .
Por que será que isso aconteceu?
Esquema técnico ou jogo político?
As hipóteses se dividem entre:
1. Falha no sistema alfandegário venezuelano, levando à rejeição dos certificados.
2. Nova diretriz política de Maduro, possivelmente em represália ao Brasil no âmbito diplomático e do Mercosul .
Ambas as versões são ruins — seja por incompetência, seja por abuso.
Dívida de bilhões no escuro
Para piorar, a Venezuela tem uma dívida de mais de R$ 10 bilhões com o Brasil — sendo que parte disso está parada desde 2018, sobre empréstimos de obras públicas e projetos industriais financiados por instituições brasileiras .
Imagine só: você empresta dinheiro e, quem recebe, ainda passa a te taxar sem cerimônia. Dá um tapa na diplomacia.
Quem mais está sendo afetado?
Empresários e produtores de Roraima
Eles estavam contando com vendas a preços pré-acordados. De repente, seis dígitos a mais nos custos. O resultado? Algumas cargas viram prejuízo na frente da alfândega.
A maioria dos exportadores dessa fronteira não tem condições de absorver esse impacto.
Comerciantes venezuelanos também
Surpresa: os importadores da Venezuela confiam nos produtos brasileiros. Se isso custa caro de repente, muitos vão buscar alternativas mais baratas — e aí é prejuízo dos dois lados.
O Brasil como país exportador
O impacto vai além da cidadania de Roraima. Esse episódio mostra fragilidade na aplicação de acordos e pode gerar insegurança comercial em outros mercados da América Latina também.
Por que esse acordo existia?
O que é o ACE 69?
É um acordo específico do Mercosul entre o Brasil e a Venezuela que entrou em vigor em partes desde 2014. Ele prevê o livre comércio de quase todos os produtos, contanto que o exportador brasileiro apresente o certificado de origem correto .
Até 2018, a maioria dos produtos estava 100% livre de tarifas. Mas, agora, essa regra parece ter sido ignorada por quem tá no comando em Caracas.
E quais são os próximos passos?
Investigações abertas
A FIER já iniciou um processo interno para mapear tudo. Paralelamente, o governo federal pressiona por transparência diplomaticamente.
Se for erro do sistema, esperam correção rápida. Se for política, a conversa será dura.
Consequências legais e econômicas
A Venezuela pode estar violando um acordo internacional. Isso abre margem para protestos na ALADI ou no Mercosul — e, quem sabe, ações na OMC.
Um paralelo pra entender melhor
Vamos pensar num exemplo mais simples:
Imagina que você combinou com seu colega de negócios para sempre comprar farinha dele sem cobrar imposto. Ele manda a nota fiscal certinha, tudo certo. Mas nesse mês, você resolve cobrar 70% de imposto sobre a farinha dele, sem avisar. E ainda reclama que ele não entregou os documentos corretamente — mesmo que tenha seguido o combinado.
Essa atitude pode acabar com a parceria. Porque quem recebe o golpe fica inseguro em continuar.
O que podemos tirar dessa história?
Acordos precisam de fiscalização
Um tratado bonito assinado não é garantia de respeito. É necessário monitorar os sistemas, acompanhar pontos de vazamento e questionar decisões estranhas.
Exportadores devem se proteger
Usar seguro-exportação, diversificar mercados e registrar todos os documentos: pode parecer burocrático, mas se torna bem útil em crises como essa.
Diplomacia tem que funcionar
Diferenças políticas não justificam descumprimento de acordos econômicos. É um erro estratégico ignorar isso. De um lado e de outro.
E agora, para onde vamos?
Brasil deve agir com firmeza
Além de cobranças diplomáticas, é possível até rever o acordo se Venezuela insistir nas tarifas. A pressão internacional é real e pode surtir efeito.
E, quem sabe, abrir espaço para outras parcerias bilaterais na América do Sul.
Exportadores precisam se reinventar
Buscar novos clientes fora da Venezuela é urgente para quem depende exclusivamente desse mercado.
Consumidores podem sentir
Produtos como farinha, cacau, margarina podem sofrer aumento de preço localmente — especialmente em Roraima. Até negociações com a Venezuela atrasarem, o impacto vai bater lá.
Uma tempestade inesperada
O Brasil se viu surpreendido por uma tarifa que não fazia sentido. Um acordo que era sólido foi ignorado. E a diplomacia entrou em campo correndo atrás de respostas.
É um alerta para todos nós: acordos existem, mas só funcionam se houver vigilância. Exportar dá orgulho, mas requer preparo para imprevistos. E os governantes devem ficar atentos para defender o que foi combinado — ou então colocar tudo abaixo da chuva.
A Venezuela pode indicar um novo caminho ou complicar ainda mais as relações bilaterais. A bola está com eles — mas tem reflexo direto no nosso campo.
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